23 de julho de 2011

Entretenimento Brasileiro



No ano em que se comemora 60 anos de telenovelas no Brasil, a Rede Globo, emissora líder de audiência no segmento, estendeu seu prime time (horário nobre) para ‘presentear’ seus espectadores com o lançamento da novela “O Astro”, obra de Janete Clair, no dia 12 de Julho, exibida às 23 horas.

Há 60 anos que a população brasileira acompanha o espetáculo da vida humana retratada pelo viés do entretenimento midiático. Há 60 anos que milhares de pessoas destinam, em média, 01 hora e 15 minutos do seu dia para assistir novelas. Hoje com o lançamento da novela “O Astro”, a Rede Globo, por exemplo, passa a exibir seis novelas ao longo de sua programação diária. Inicia-se com a reprise de algum sucesso no programa ‘Vale a Pena Ver de Novo’ e segue com a exibição de ‘Malhação’, novela das seis, das sete, das oito e agora também, das onze horas. Como podemos perceber, milhares de telespectadores destinam aproximadamente 6 horas do dia para seguir os capítulos das novelas.

O fato é que o entretenimento, gerado pelas novelas, age como um fabuloso hipnotizador que se apropria de mentes alienadas para garantir o pão de cada dia das emissoras. Cultura e informação de qualidade estão escondidas em meio a tanta espetacularização do reality show humano. Por ser um instrumento tão persuasivo, até mesmo outros gêneros estão incorporando o caráter novelístico ao seu formato. Os telejornais, por exemplo, utilizam desse recurso para noticiar fatos marcantes; simples notícias se transformam em “Caso Nardoni”, “Caso Bruno” etc. A notícia passa a se tornar uma narrativa, onde o fato é exposto durante vários dias em forma de capítulos.

Mas afinal, o que é que faz das novelas algo tão desejado por milhões de pessoas, há 60 anos no Brasil? Seriam a importância em se debater temas polêmicos da atualidade? Seria pelo fato de todos após uma longa jornada de trabalho, julgar merecido se entreter com os programas da TV? É difícil crer que sejam esses os motivos. É mais fácil acreditar que o interesse pelas novelas se deve ao interesse pela vida do outro, pelo particular. Isto, pois os meios de comunicação utilizando do potencial de ditar comportamentos e tendências estimulam o hábito de se ocupar com a vida alheia.

Os padrões de conduta são impostos pelo que as novelas exibem, e assim, as pessoas estão entregando sua autonomia às emissoras de TV, o que as tornam cada vez mais incapazes de pensar diante dos fatos. Não há interpretação e sim, uma fiel imitação. Falta reflexão diante da tela. A moral e o senso crítico estão fora dos padrões estipulados pelos canais de comunicação, frente a realidade da TV brasileira.

Jussara Assis

10 de julho de 2011

Imprensa: Produtora de Significado


A mídia produz e partilha significado, logo, ela contribui para a variável percepção de mundo de todos os indivíduos, participando da vida social e cultural de cada um. A mídia assume papel decisivo na sociedade contemporânea como formadora de opinião. Vale acrescentar um fato relevante: a imprensa nunca será imparcial, pois esta, se valendo como uma instituição social tem em sua organização um conjunto de regras e valores, assumindo então, um ponto de vista.

Nesta perspectiva, toda notícia produzida e veiculada pela mídia é simplesmente a sua interpretação dos fatos, que segundo o geógrafo Milton Santos, é uma interpretação mergulhada na sua visão, nos seus preconceitos e nos seus interesses – que na sua grande maioria são comerciais.

Com a capacidade de modificar o comportamento do receptor, as mensagens produzidas pela mídia são de baixo repertório: redundantes, imediatistas e de fácil circulação, elas reforçam ainda mais a condição de inércia e alienação na qual, nós os receptores estamos fadados.

A cultura de uma nação, entendida como um fenômeno ativo e vivo, através do qual as pessoas criam e recriam mundos em que vivem, sofrem influência determinante da mídia, pois esta estabelece modos de pensar, agir e principalmente de consumir.

A mídia se intensifica como referência para a vida diária; a produção e a manutenção do senso comum tendem a depender somente da mídia, sabendo do imenso poder que ela tem nas mãos, ela desenvolve através da produção e partilha de significados, um sem número de necessidades que são resolvidas com um sem números de produtos veiculados e comercializados por ela.

Em um documentário do cineasta brasileiro Silvio Tendler, que mostra uma entrevista com o geógrafo Milton Santos, cujo título é “O mundo global visto do lado de cá”, discorre sobre os problemas da globalização na ótica do terceiro mundo. No trecho final da obra, Milton Santos profetiza o seguinte: “... estamos fazendo os ensaios do que será a humanidade.”

Segundo o dicionário Aurélio, humanidade se refere aos seres humanos, ao povo; clemência; compaixão. A mídia pode contribuir de maneira considerável para construção desta “humanidade” baseada na solidariedade entre indivíduos e povos.

As ações de utilidade pública – todas elas paliativas – que a mídia realiza, só são feitas unicamente, para reforçar sua imagem perante a opinião pública; mostrar para todos que é uma instituição socialmente responsável.

Uma das maiores ações que a mídia poderá fazer para esta “humanidade” seria contribuir para que todas as pessoas pudessem pensar e refletir, não em busca de um desejo de consumo, mas em busca de um senso comum que fosse pautado em valores morais que visem o aperfeiçoamento e libertação individual e coletiva dos seres humanos.

Aumentar o poder de compra significa uma vida feliz? Esta receita de felicidade que a mídia nos dá sacia todos os nossos anseios? Estas perguntas são tão enigmáticas quanto às pirâmides do mundo antigo. São moralistas e ultrapassadas. A pergunta da moda é “o que eu posso ter?” A mídia nos faz esta pergunta, mas até neste caso ela não nos dá o direito de pensar, ela logo nos responde nos intervalos de nossos programas favoritos.



Fábio César Marcelino