No ano em que se comemora 60 anos de telenovelas no Brasil, a Rede Globo, emissora líder de audiência no segmento, estendeu seu prime time (horário nobre) para ‘presentear’ seus espectadores com o lançamento da novela “O Astro”, obra de Janete Clair, no dia 12 de Julho, exibida às 23 horas.
Há 60 anos que a população brasileira acompanha o espetáculo da vida humana retratada pelo viés do entretenimento midiático. Há 60 anos que milhares de pessoas destinam, em média, 01 hora e 15 minutos do seu dia para assistir novelas. Hoje com o lançamento da novela “O Astro”, a Rede Globo, por exemplo, passa a exibir seis novelas ao longo de sua programação diária. Inicia-se com a reprise de algum sucesso no programa ‘Vale a Pena Ver de Novo’ e segue com a exibição de ‘Malhação’, novela das seis, das sete, das oito e agora também, das onze horas. Como podemos perceber, milhares de telespectadores destinam aproximadamente 6 horas do dia para seguir os capítulos das novelas.
O fato é que o entretenimento, gerado pelas novelas, age como um fabuloso hipnotizador que se apropria de mentes alienadas para garantir o pão de cada dia das emissoras. Cultura e informação de qualidade estão escondidas em meio a tanta espetacularização do reality show humano. Por ser um instrumento tão persuasivo, até mesmo outros gêneros estão incorporando o caráter novelístico ao seu formato. Os telejornais, por exemplo, utilizam desse recurso para noticiar fatos marcantes; simples notícias se transformam em “Caso Nardoni”, “Caso Bruno” etc. A notícia passa a se tornar uma narrativa, onde o fato é exposto durante vários dias em forma de capítulos.
Mas afinal, o que é que faz das novelas algo tão desejado por milhões de pessoas, há 60 anos no Brasil? Seriam a importância em se debater temas polêmicos da atualidade? Seria pelo fato de todos após uma longa jornada de trabalho, julgar merecido se entreter com os programas da TV? É difícil crer que sejam esses os motivos. É mais fácil acreditar que o interesse pelas novelas se deve ao interesse pela vida do outro, pelo particular. Isto, pois os meios de comunicação utilizando do potencial de ditar comportamentos e tendências estimulam o hábito de se ocupar com a vida alheia.
Os padrões de conduta são impostos pelo que as novelas exibem, e assim, as pessoas estão entregando sua autonomia às emissoras de TV, o que as tornam cada vez mais incapazes de pensar diante dos fatos. Não há interpretação e sim, uma fiel imitação. Falta reflexão diante da tela. A moral e o senso crítico estão fora dos padrões estipulados pelos canais de comunicação, frente a realidade da TV brasileira.
Jussara Assis