Peça gráfica utilizada na campanha |
Com um
slogan pra lá de polêmico, a Cerveja Devassa, de propriedade da Schincariol,
lança a sua cerveja preta: a Devassa Tropical Dark. Com a frase “É pelo corpo
que se conhece a verdadeira negra”, a cervejaria, com esta mensagem apelativa,
busca mais um nicho de um mercado concorridíssimo.
Sobre a
campanha é possível se fazer inúmeras análises e se chegar a variadas
conclusões, no entanto, abordaremos o tema em duas perspectivas: a
mercadológica e a social.
Do ponto
de vista mercadológico, a campanha publicitária da Cerveja Devassa Tropical
Dark, não surpreende tanto, pois a estratégia da cervejaria é abordar a
sexualidade imbricada a grandes polêmicas, na busca incessante de publicidade,
independente da repercussão, seja ela positiva ou negativa. A empresa quer, de
fato, é a mídia espontânea, de acordo com aquela velha máxima: “fale mal, mas fale
de mim”, a empresa vai beber desta fonte inesgotável, que é a sexualidade, o
quanto puder. A marca pertencente à Schincariol está há anos luz atrás das
principais marcas nacionais, a Brahma e a Skol, que estão, segundo a Revista Exame, entre as
10 mais consumidas no mundo.
Do ponto
de vista social, a empresa faz “o mais do mesmo” ao representar a figura da
mulher negra erotizada. A figura da mulata, na cultura nacional, sempre esteve
associada ao sexo. É histórico e cultural e, ao mesmo tempo, medonho e
desprezível. O que a mídia faz, simplesmente, é delinear um perfil para esta
mulher negra, que sofre alterações ao longo dos anos, e vender a preço
acessível para a população. Este modelo ou estereótipo de mulher negra está nas
novelas, nos comerciais, no esporte, na política, na cultura e, enfim, em todos
os segmentos da sociedade brasileira.
Quando se
lê o slogan da cervejaria, a princípio, para alguns, causa certa perplexidade. Mas
este espanto logo passa, quando se depara, na rua, com uma negra das pernas
grossas, nádegas fartas, cabelos ondulados e boca sensual. Poderia se dizer
lábios carnudos, mas não, a negra de hoje, do comercial, possui traços de uma
mulher da raça branca, porém com a pele negra. “A negra beiçuda” está fora de
moda. Neste instante, quando a mulher deixa de ser sujeito e vira objeto,
qualquer tipo de pudor se esvai, reforçando-se a máxima dita na campanha
publicitária.
A mais
prejudicada nesta história toda, é aquela mulher negra, que não se enquadra, e
nem quer se enquadrar, neste perfil que nasce no imaginário das pessoas e é
remodulado pela mídia. Na música de Jorge Ben Jor denominada “África Brasil –
Zumbi”, o cantor cita na letra uma suposta princesa africana, de alguma tribo
ou nação, que veio para o Brasil, como escrava e estava sendo leiloada junto
com seus súditos, e segundo a canção, todos estavam “acorrentados em carros de
boi”. Guardadas as devidas proporções, é nesta circunstância, que um número
expressivo de mulheres negras se encontra neste país que se orgulha de ser
diverso e plural, mas exclui e marginaliza elementos que compõe esta mesma
diversidade.
Fábio César
Marcelino