8 de outubro de 2013

Devassidão

Peça gráfica utilizada na campanha
Com um slogan pra lá de polêmico, a Cerveja Devassa, de propriedade da Schincariol, lança a sua cerveja preta: a Devassa Tropical Dark. Com a frase “É pelo corpo que se conhece a verdadeira negra”, a cervejaria, com esta mensagem apelativa, busca mais um nicho de um mercado concorridíssimo. 

Sobre a campanha é possível se fazer inúmeras análises e se chegar a variadas conclusões, no entanto, abordaremos o tema em duas perspectivas: a mercadológica e a social.

Do ponto de vista mercadológico, a campanha publicitária da Cerveja Devassa Tropical Dark, não surpreende tanto, pois a estratégia da cervejaria é abordar a sexualidade imbricada a grandes polêmicas, na busca incessante de publicidade, independente da repercussão, seja ela positiva ou negativa. A empresa quer, de fato, é a mídia espontânea, de acordo com aquela velha máxima: “fale mal, mas fale de mim”, a empresa vai beber desta fonte inesgotável, que é a sexualidade, o quanto puder. A marca pertencente à Schincariol está há anos luz atrás das principais marcas nacionais, a Brahma e a Skol, que estão, segundo a Revista Exame, entre as 10 mais consumidas no mundo.

Do ponto de vista social, a empresa faz “o mais do mesmo” ao representar a figura da mulher negra erotizada. A figura da mulata, na cultura nacional, sempre esteve associada ao sexo. É histórico e cultural e, ao mesmo tempo, medonho e desprezível. O que a mídia faz, simplesmente, é delinear um perfil para esta mulher negra, que sofre alterações ao longo dos anos, e vender a preço acessível para a população. Este modelo ou estereótipo de mulher negra está nas novelas, nos comerciais, no esporte, na política, na cultura e, enfim, em todos os segmentos da sociedade brasileira.

Quando se lê o slogan da cervejaria, a princípio, para alguns, causa certa perplexidade. Mas este espanto logo passa, quando se depara, na rua, com uma negra das pernas grossas, nádegas fartas, cabelos ondulados e boca sensual. Poderia se dizer lábios carnudos, mas não, a negra de hoje, do comercial, possui traços de uma mulher da raça branca, porém com a pele negra. “A negra beiçuda” está fora de moda. Neste instante, quando a mulher deixa de ser sujeito e vira objeto, qualquer tipo de pudor se esvai, reforçando-se a máxima dita na campanha publicitária.

A mais prejudicada nesta história toda, é aquela mulher negra, que não se enquadra, e nem quer se enquadrar, neste perfil que nasce no imaginário das pessoas e é remodulado pela mídia. Na música de Jorge Ben Jor denominada “África Brasil – Zumbi”, o cantor cita na letra uma suposta princesa africana, de alguma tribo ou nação, que veio para o Brasil, como escrava e estava sendo leiloada junto com seus súditos, e segundo a canção, todos estavam “acorrentados em carros de boi”. Guardadas as devidas proporções, é nesta circunstância, que um número expressivo de mulheres negras se encontra neste país que se orgulha de ser diverso e plural, mas exclui e marginaliza elementos que compõe esta mesma diversidade.
           


Fábio César Marcelino