22 de outubro de 2012

Tudo vale a pena?



Estamos na metade da primavera, a estação das flores, e, como de costume, as campanhas de lançamento para a próxima estação, o verão, já começaram a ser apresentadas. São coleções de calçados, roupas e acessórios. Isto é, são tendências sutilmente impostas pelos padrões da cultura consumista.

A Loja Marisa, por exemplo, lançou na última quarta-feira dia 17 de outubro, a sua nova coleção “Alto verão Marisa”. O lançamento foi ilustrado com um belíssimo comercial protagonizado por uma linda, magra e elegante modelo. Nada de novo, correto? Afinal, quase todas as campanhas publicitárias possuem este estereótipo. Porém, o clipe está sendo questionado pelo uso de um texto ditatorial. Vejam:


“Esta é uma homenagem a todos vocês que me ajudaram a chegar até aqui. À todos os chuchus que eu comi este ano, aos pepinos fatiados, baby cenouras e quinuas que acalmaram meus momentos de ansiedade. Uma justa homenagem às leguminosas e sopas ralas que fizeram minhas refeições menos alegres, mas que farão meu verão mais feliz”.


Trata-se de uma campanha que impõe a ditadura da beleza e do culto ao corpo. No vídeo, a modelo expõe os sacrifícios realizados para estar com o corpo perfeito para o verão e a certeza de que a restrição alimentar fará desse verão o mais feliz. Feliz por ter um corpo desejado, admirado e bonito de se por à mostra. E, para finalizar, o vídeo fecha afirmando que “tudo vale a pena para viver bem o verão”. Será? Será mesmo que outras pessoas por não seguirem os padrões impostos pela ditadura da magreza não serão felizes neste verão? E, será mesmo que tudo vale a pena?

Creio que não. Pois em nome deste corpo magro e perfeito, milhares de pessoas sacrificam não só a sua alimentação, mas também a vida. Doenças graves como a anorexia e a bulimia são exemplos das possíveis consequências desta terrível e, ainda, tão imposta ditadura. Abaixo, assista ao vídeo.

Até breve,
Jussara Assis



8 de outubro de 2012

Navegar é preciso; viver não é preciso.



Ontem o dia nasceu apático e enfadonho em todas as cidades brasileiras. Não que o tempo estivesse nascido acinzentado e chuvoso, pelo contrário, a chuva sempre será bem vinda. A data dominical do dia 07 de outubro foi dedicada as eleições municipais: dia de escolher quem serão nossos representantes – prefeito e vereadores por pelos próximos 4 anos.

O tempo feio do qual me refiro é a chuva de “santinhos de candidatos” contendo propaganda hipócrita e demagógica, e que inundam os becos, ruas e avenidas afogando grande parte da população brasileira na calmaria do Mar da Apatia. Ficar a deriva neste oceano faz parte de nossa cultura.

O Brasil República nasceu sobre o signo da apatia. Tanto a Independência do Brasil, quanto a Proclamação da República, foram marcados pela pouca ou nenhuma participação popular. São dois eventos de cunho revolucionário, que pressupunha a participação maciça do povo, e que podem se definidos com a frase célebre dita em 26 de julho de 1930, por um político expressivo da época: “Façamos a revolução antes que o povo a faça”.

Este modelo de política de favorecimento das elites permeia a história do Brasil. O Estado detentor do poder político nunca permitiu a participação ativa e efetiva da população na política. Golpes e ditaduras foram realizados, com o intuito de manter os grupos hegemônicos no poder. O resultado de tal política assistencialista, que faz dos direitos do povo uma concessão do estado, são cidadãos apáticos e submissos, que assumem papel secundário na sociedade brasileira. Sergio Rouanet fala sobre a política na pós-modernidade: “Há certo risco de carnavalização da política: uma festa que alguns adolescentes saem periodicamente às ruas num simpaticíssimo protesto [...] e, no intervalo a letargia.” ou a apatia.

Fica a sensação terrível em que tudo está em seu devido lugar, que a ordem natural das coisas seja esta da qual nós vivemos.

Fábio César Marcelino