Na semana
passada, tive a oportunidade de assistir ao filme As Iracemas. Curta metragem
que conta a história de uma família que vive em uma região isolada, em um
casebre que fica na região do Alto do Mingú, entre os municípios de Rio
Acima e Raposos (MG), distante apenas 33 km de Belo Horizonte, capital da
nossa Minas Gerais.
O filme
mostra o cotidiano bucólico e solitário de quatro mulheres que preferiram a
atual tranquilidade do local, do que fazer parte da imensa “Aldeia Global”. Aos
nossos olhos elas não vivem, pois não produzem ou consomem: elas se mantem
através de doações e, sua tarefa é a de cuidar dos animais. Ao final das gravações
do filme, a matriarca falece, causando grande consternação por parte das
demais.
O fato
inusitado é quando os produtores do filme reproduzem a película em um laptop: quando
elas se viram na imagem ficaram estarrecidas, pois nem espelhos possuem.
Ficaram ainda mais perplexas quando viram a mãe que falecera. Da tela do
computador viram a mãe contar as história de suas vidas, história esta que bem
sabiam, mas em uma perspectiva
assustadora e nova: a emoção mediada pela tecnologia. Fiquei imaginado a
vontade oceânica daquelas mulheres em abraçar a mãe.
O
pensador alemão Siegfried Zielinski, de passagem pelo Brasil faz uma interessante
afirmação que ilustra o caso acima: para o filósofo, qualquer aparato
tecnológico de comunicação são ferramentas racionais que nos auxiliam bastante,
mas elas não podem representar a substituição de partes da vida ligadas as
emoções.
As
Iracemas resolveram viver isoladas da sociedade por entenderem que uma vida
reclusa, baseada totalmente na família seria melhor. Imagino que vivem
intensamente uma relação familiar intricada, mas de alguma beleza, creio eu, que
no mínimo são mais humanas do que as nossas, pois a relação que se apresenta
entre as Iracemas é supostamente baseada na emoção.
Enquanto
nós, da “aldeia global” racionalmente vamos robotizando a vida dando à emoção
uma versão fria e apática e, mais do que nunca, previsível e pontual.
Clique aqui e conheça um pouco mais sobre o filme.
Fábio
César Marcelino