19 de junho de 2013

Comportamento Geral



Sem dúvida nenhuma as manifestações que estão ocorrendo nas capitais e municípios brasileiros já entraram para história. O gasto exorbitante de recursos públicos na organização da Copa do Mundo e o descaso em outros setores fez eclodir focos de manifestações de grupos que a muito não se via.

A causa é legítima, pois esses mesmos recursos poderiam ser investidos em saúde, educação e outras tantas demandas sociais. Mas, vale ressaltar que esta causa maior vem sendo sustentada pelas tantas outras causas defendidas pelos mesmos grupos que possuem algum capital social e, desta feita, possuem relativa voz na sociedade brasileira.

O emaranhado de vozes dissonantes, antagônicas e fragmentárias dos variados grupos se une de vez e quando para fabricar heróis nacionais, dos quais temos uma remota lembrança, pois foram através de seus “atos de bravura” que temos alguns dias de folga, os ditos feriados.

Mas nesses eventos históricos que marcaram o Brasil sempre faltou um sujeito social de grande relevância para o país: o povo brasileiro. Este corpo de pessoas formadas por grande parte da população esteve sempre à margem, tecendo o rude trabalho para manter o padrão de vida dos nossos heróis nacionais. E, infelizmente, o povo nunca teve tempo para participar de movimento algum. Pois lá está ele; cabisbaixo e enfurecido, cansado da lida e esperando o ônibus lotado que não vem devido ao transito caótico, tendo em vista as manifestações. E, mais das vezes não entendendo nada do que se está se passando, desconhecendo os motivos das lutas sociais e acreditando em tudo o que vê pela TV. É histórico e cultural. Para o governo é necessário ter um povo assim: sem informação e contra as ditas manifestações sociais que a TV mostra.

Não se trata aqui de desqualificar o movimento, pois o mesmo é justo e legítimo. O que se questiona é um movimento visto como popular e que ao menos tem a participação deste. Lá estão os mesmos que participam desde a concepção do nosso amado e combalido Brasil: os estudantes, os partidos políticos, os extremistas, os intelectuais, os empresários etc. Isto é, aqueles que de algum modo não consomem o banquete de informação ofertado pela grande mídia e detém suas próprias narrativas.

No começo dos anos 70, o cantor e compositor Gonzaguinha compôs uma música belíssima que fora censurada pela o regime militar, e que só pode ser lançada na década seguinte, após a abertura. A música se chama “Comportamento Geral”. A letra da canção discorre sobre a apatia e alienação das pessoas frente ao regime totalitário da época. É uma letra bem atual e que envolve em uma profunda reflexão: pode parecer utopia, mas quem sabe um dia, todas as camadas da sociedade brasileira pudessem participar de uma ação onde ecoassem uma única voz reivindicando “ORDEM E PROGRESSO”.



Fábio César Marcelino