11 de março de 2013

Sergio Sampaio, o maldito




Na manhã do dia 05 de maio de 1994, o cantor e compositor Sérgio Sampaio saia da vida para a eternidade transformando-se em mito da MPB pelo mesmo sistema que o condenou ao ostracismo. Quando vivo, o cantor não quis que sua obra fosse apenas mais um mero produto da Indústria Cultural, do qual fosse consumido e descartado. Sampaio foi rotulado de “maldito” pela mídia, pois suas músicas foram consideradas ácidas e, a tônica da obra do artista sempre foi o questionamento.

Se suas música tem gosto de fel são porque elas trazem o sabor do drama humano em uma linguagem mais elaborada e criativa. Desta feita, a sua música não se enquadrava como um produto da indústria cultural: gasto, redundante e esvaziado de sentido. Em sua música Cabra Cega, o artista fala sobre a uniformização da vida: “Pra você que mal enxerga/ Uma nave extraterrena vai ser sempre um avião/ Um satélite perdido, um delírio coletivo/ Um balão de São João.”

Em 1972, com a ajuda de Raul Seixas o compacto “Eu quero é botar meu bloco na rua” vendera mais de 500 mil cópias. Com uma letra que sintetizava a angustia de uma nação amordaçada pela ditadura militar, o rit era um grito angustiante de liberdade cantado e aclamado pelos brasileiros, tanto que foi o tema do carnaval de 1973.

Nascido na mesma terra do Rei Roberto Carlos, – Sampaio o homenageou com a belíssima canção Meu pobre blues – a Indústria Cultural com seu faro empreendedor profetizou o capixaba como um novo ícone da música. Assim, o sistema exigiu de Sergio Sampaio outros sucessos meteóricos.

Sampaio não seguiu as regras do jogo, segundo o mesmo, por opção. Em uma relação intricada com a mídia e a indústria fonográfica somada uma vida de abusos de álcool e droga mergulhou no ostracismo, sendo conhecido, portanto, como “o cantor de uma música só”, o que é uma tremenda injustiça.

Sem gravadora e sem espaço na mídia ele se tornou um artista independente, vivendo apenas de shows eventuais para pequenas plateias, porem fieis a sua obra. Sua música tornou-se alternativa e, sem dúvida nenhuma, Sampaio foi um dos primeiros artistas da "Contracultura".

Sergio Sampaio permaneceu no obscurantismo por toda a década de 1980, e quando tentou retomar a sua carreira em meados da década de 1990, foi vitimado por uma doença no pâncreas em decorrência do vício do álcool.

Assim como vários personagens, com a sua morte, Sergio Sampaio foi incorporado ao mesmo sistema industrial que antes o repeliu. Regravações de suas músicas por outros artistas, tributos e até um livro foram lançados pelo o sistema.  Esta prática rende muito dinheiro para a Indústria, pois a relação com o mito é muito mais harmoniosa do que com o homem.

Apesar de tudo, a música de Sergio Sampaio expressa a sua capacidade intelectual e criativa tornando-se atemporal, cumprido seu papel como um agente da cultura nacional.

Fábio César Marcelino