Na
manhã do dia 05 de maio de 1994, o cantor e compositor Sérgio Sampaio saia da vida para a
eternidade transformando-se em mito da MPB pelo mesmo sistema que o condenou ao
ostracismo. Quando vivo, o cantor não quis que sua obra fosse apenas mais um
mero produto da Indústria Cultural, do qual fosse consumido e descartado.
Sampaio foi rotulado de “maldito” pela mídia, pois suas músicas foram
consideradas ácidas e, a tônica da obra do artista sempre foi o questionamento.
Se
suas música tem gosto de fel são porque elas trazem o sabor do drama humano em
uma linguagem mais elaborada e criativa. Desta feita, a sua música não se
enquadrava como um produto da indústria cultural: gasto, redundante e esvaziado
de sentido. Em sua música Cabra Cega, o artista fala sobre a uniformização da
vida: “Pra você que mal enxerga/ Uma nave extraterrena vai ser sempre um avião/
Um satélite perdido, um delírio coletivo/ Um balão de São João.”
Em
1972, com a ajuda de Raul Seixas o compacto “Eu quero é botar meu bloco na rua” vendera mais de 500 mil cópias.
Com uma letra que sintetizava a angustia de uma nação amordaçada pela ditadura
militar, o rit era um grito angustiante de liberdade cantado e aclamado pelos
brasileiros, tanto que foi o tema do carnaval de 1973.
Nascido
na mesma terra do Rei Roberto Carlos, – Sampaio o homenageou com a belíssima
canção Meu pobre blues – a Indústria
Cultural com seu faro empreendedor profetizou o capixaba como um novo ícone da
música. Assim, o sistema exigiu de Sergio Sampaio outros sucessos meteóricos.
Sampaio
não seguiu as regras do jogo, segundo o mesmo, por opção. Em uma relação
intricada com a mídia e a indústria fonográfica somada uma vida de abusos de
álcool e droga mergulhou no ostracismo, sendo conhecido, portanto, como “o
cantor de uma música só”, o que é uma tremenda injustiça.
Sem
gravadora e sem espaço na mídia ele se tornou um artista independente, vivendo
apenas de shows eventuais para pequenas plateias, porem fieis a sua obra. Sua
música tornou-se alternativa e, sem dúvida nenhuma, Sampaio foi um dos
primeiros artistas da "Contracultura".
Sergio
Sampaio permaneceu no obscurantismo por toda a década de 1980, e quando tentou
retomar a sua carreira em meados da década de 1990, foi vitimado por uma doença
no pâncreas em decorrência do vício do álcool.
Assim como vários personagens, com
a sua morte, Sergio Sampaio foi incorporado ao mesmo sistema industrial que
antes o repeliu. Regravações de suas músicas por outros artistas, tributos e
até um livro foram lançados pelo o sistema. Esta prática rende muito dinheiro para a
Indústria, pois a relação com o mito é muito mais harmoniosa do que com o
homem.
Apesar
de tudo, a música de Sergio Sampaio expressa a sua capacidade intelectual e
criativa tornando-se atemporal, cumprido seu papel como um agente da cultura
nacional.
Fábio César Marcelino