Ontem o dia nasceu
apático e enfadonho em todas as cidades brasileiras. Não que o tempo estivesse
nascido acinzentado e chuvoso, pelo contrário, a chuva sempre será bem vinda. A
data dominical do dia 07 de outubro foi dedicada as eleições municipais: dia de
escolher quem serão nossos representantes – prefeito e vereadores por pelos
próximos 4 anos.
O tempo feio do qual
me refiro é a chuva de “santinhos de candidatos” contendo propaganda hipócrita
e demagógica, e que inundam os becos, ruas e avenidas afogando grande parte da
população brasileira na calmaria do Mar da Apatia. Ficar a deriva neste oceano
faz parte de nossa cultura.
O Brasil República
nasceu sobre o signo da apatia. Tanto a Independência do Brasil, quanto a
Proclamação da República, foram marcados pela pouca ou nenhuma participação
popular. São dois eventos de cunho revolucionário, que pressupunha a
participação maciça do povo, e que podem se definidos com a frase célebre dita
em 26 de julho de 1930, por um político expressivo da época: “Façamos a
revolução antes que o povo a faça”.
Este modelo de
política de favorecimento das elites permeia a história do Brasil. O Estado
detentor do poder político nunca permitiu a participação ativa e efetiva da
população na política. Golpes e ditaduras foram realizados, com o intuito de
manter os grupos hegemônicos no poder. O resultado de tal política
assistencialista, que faz dos direitos do povo uma concessão do estado, são
cidadãos apáticos e submissos, que assumem papel secundário na sociedade
brasileira. Sergio Rouanet fala sobre a política na pós-modernidade: “Há certo
risco de carnavalização da política: uma festa que alguns adolescentes saem
periodicamente às ruas num simpaticíssimo protesto [...] e, no intervalo a
letargia.” ou a apatia.
Fica a sensação terrível em que tudo está em seu devido lugar, que a ordem natural das coisas seja esta da qual nós vivemos.
Fábio César Marcelino
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