31 de janeiro de 2014

No olho do furacão

Nas últimas duas semanas, o “rolezinho” ganhou destaque nos meios de comunicação em todo o Brasil. O valor noticioso deste fato, para grande mídia, está na afronta que estes jovens, ditos periféricos, praticam ao ousarem “passear” nos shoppings – templos privados do capitalismo – dos grandes centros urbanos do Brasil, ou seja, em territórios que não foram criados para que estes transitem. Fato semelhante ocorre nos centros culturais como os teatros, museus, cinemas e praças, embora estes espaços sejam, na teoria, públicos.

Os “rolezinhos” são frutos de mobilizações de indivíduos historicamente marginalizados e excluídos. Podemos classificar os “rolezinhos” como um movimento maniqueísta, onde o bem e o mal convivem, em alguns momentos, harmoniosamente. Para alguns, o “rolezinho” é somente um passeio descompromissados de adolescentes, para outros, são arrastões planejados pelos grupos.

Em algumas ocasiões, um grupo é formado a partir da deliberação de indivíduos, com ideias diferentes, que se reúnem em torno de uma causa. O sentido produzido nessas deliberações é negociado entre os membros. Um grupo é formado por conflito e coesão. 

Mesmo considerando que estas deliberações são realizadas na internet, pois mesmo possuindo esta imensa capacidade de penetração na sociedade, os movimentos produzidos nela, em grande escala, são utópicos e fugazes. Mas, ainda sim, estes movimentos são válidos.

Desta feita, um turbilhão de opiniões é lançado por especialistas e doutores que, cada um na sua área de atuação, emerge de suas torres de marfim, ora apresentando um parecer favorável, ora desfavorável em relação ao movimento. No entanto, só teremos a noção dos “rolezinhos”, diante do pragmatismo que o evento sugere: quando estivermos no shopping fazendo as compras nossas de cada dia, e demos de cara com o fogo-fátuo – resultado do conflito e coesão do grupo – destes movimentos vindo em nossa direção. Ou seja, no olho do furacão.

Para refletir, deixo abaixo um vídeo da música do Gonzaguinha, chamada “Pacato Cidadão”. 


"Violência não é só quando uma pessoa nos assalta. Violência não é só quando um policial bate com o cassetete na cabeça da gente. Violência também, e muito maior, é não ter direito à cultura, é não ter direito ao trabalho, é não ter direito à saúde, é não ter direito à felicidade e liberdade".



Fábio Cesar Marcelino



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